MT: Trabalhadores da Alimentação assinam “O Grito de Cuiabá”
Encontro regional da categoria resulta na criação de coordenadoria
que intensificará ações sindicais no Centro-Oeste
O encerramento do Seminário Regional da Alimentação no Centro-Oeste, nessa quarta (23/11), teve como documento final carta pública com as principais decisões e posicionamento coletivo sobre os problemas enfrentados pelos 200 mil trabalhadores nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Realizado em Cuiabá (MT) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos e Afins (CNTA Afins), o texto traz ações em defesa da equiparação de gênero no mercado de trabalho, unicidade sindical e sua forma de custeio, criação de forças-tarefas estaduais, cumprimento de normas que visam a saúde e segurança no trabalho, entre outros.
Com início no dia 22, dirigentes de sindicatos e federação discutiram com a CNTA as principais necessidades da categoria na região, além das teses e moções aprovadas no VI Congresso Nacional da Alimentação, em agosto desse ano. E para buscar soluções aos conflitos locais, um grupo com representantes sindicais foi eleito para coordenar as atividades no Centro-Oeste, com atuação que contará com a orientação da CNTA através de sua sala de apoio, sediada em Cuiabá (MT). Integram esse grupo: Antônio Martins da Luz (sindicato de Barra do Garças/MT), Juarez José Brugnago (sindicato de Nova Mutum/MT) e João Carmelo Gomes Sukqere (sindicato de Tangará da Serra/MT). Na ocasião, sindicalistas analisaram convenções e acordos coletivos de trabalho e se posicionaram contra as reformas trabalhistas, sindicais e previdenciárias.
O presidente da CNTA Afins, Artur Bueno de Camargo, avalia que o evento foi importante para integrar as entidades sindicais e contribuir com o intercâmbio de informações, resultando em estratégias mais precisas de trabalho, com extensão às bases. Ele também destaca a importância da capacitação das lideranças sindicais para o enfrentamento das próximas negociações coletivas.
“No momento de sentar-se à mesa para conversar com o empresário, precisamos ter bons argumentos, que são extraídos de informações e dados em mãos, por exemplo. Caso contrário, não seremos respeitados durante as negociações”, reforça.
Representante da Secretaria da Mulher da CNTA, Neuza Barbosa de Lima defendeu a equiparação de gênero nas indústrias alimentícias, principalmente, no que tange as desigualdades salariais para mesmos cargos e funções. Ela também propôs campanhas de conscientização às trabalhadores sobre seus direitos (como o afastamento não-remunerado por até 180 dias em casos de violência doméstica) e aproveitou o momento para reivindicar maior participação feminina nas direções das entidades sindicais. Segundo a pesquisa Raio X da Alimentação no Centro-Oeste, realizada pelo DIEESE a pedido da CNTA e lançada no encontro, aponta que a remuneração média da mulher é 32% menor que a do homem.
“As mulheres precisam ocupar os espaços de poder nos sindicatos e participar das mesas de negociação. Só assim haverá a redução dessa disparidade”, argumentou.
Iniciativa modelo
Diretor da CNTA, Darci Pires da Rocha compartilhou experiência de sucesso à frente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas da Alimentação de Pelotas (RS), com força-tarefa que garantiu quase 50 inspeções das condições de trabalho nos principais frigoríficos do Estado. Os resultados da parceria entre a CNTA, sindicatos locais, órgãos estaduais, Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho foram: notificações, interdições, autuações, multas e ações judiciais de frigoríficos, como JBS e Marfrig. A ideia é expandir esta ação para demais Estados e setores da Alimentação.
“O resultado não surgiu da noite para o dia. Foi necessária muita mobilização e trabalho, e hoje nós temos uma redução considerável de trabalhadores afastados por doenças ocupacionais. Todos saem ganhando com isso”, comenta Darci, que em 2004 coordenou, junto à federação do Estado, levantamento estatístico inédito sobre e saúde e segurança dos trabalhadores nas indústrias frigoríficas, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Confira, na íntegra, O Grito de Cuiabá
Diante dos alarmantes índices de desemprego, crescentes abusos do poder econômico, acidentes e mortalidade de trabalhadores da categoria nas indústrias de alimentação da região centro-oeste do Brasil, reunidos no Seminário Regional, realizado em Cuiabá/MT, nos dias 22 e 23 de novembro de 2016, em cumprimento à determinação do VI Congresso Nacional da categoria, reafirmar, categoricamente, o nosso repúdio a toda e qualquer tentativa dos poderes, econômico, Executivo, Legislativo e Judiciário que venham subtrair direitos e benefícios dos trabalhadores.
Nesse sentido, o Seminário de Cuiabá reconhecendo o descrédito do atual Congresso Nacional, conclama a categoria da alimentação a cerrar fileiras em oposição às propostas de reformas governamentais, portanto:
Não à reforma e ao fator previdenciário!
Não à reforma trabalhista que diminua direitos conquistados!
Não à reforma sindical que tentar amordaçar a voz dos trabalhadores!
O Seminário Regional reafirma a defesa intransigente do Estado Democrático de Direito e o fortalecimento de suas instituições, particularmente o Judiciário Trabalhista, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência Social.
A categoria profissional da Alimentação em Cuiabá deliberou novamente pela defesa da unicidade sindical e sua forma de custeio respeitando a vontade dos trabalhadores, bem como o incentivo às políticas públicas para criação de emprego e renda, além do combate à terceirização de mão de obra.
Deliberamos ainda:
a) pela defesa da criminalização dos empresários que deixam de pagar os direitos trabalhistas por ocasião das rescisões, inclusive, nos casos de encerramento de atividades;
b) pela inclusão nas normas coletivas, da isonomia salarial em razão de gênero;
c) pelo fortalecimento do comitê nacional e suas ações regionais, envolvendo sindicatos de base, Federações e a Confederação, visando agilizar a solução dos conflitos coletivos;
d) pela exigência junto às empresas e Órgãos do Poder Público para o cumprimento das normas que visam a saúde e segurança no trabalho;
e) pela valorização e atuação nas negociações coletivas de trabalho, priorizando as convenções coletivas em detrimento aos acordos coletivos de trabalho.
Viva os trabalhadores nas indústrias de alimentação da região centro-oeste!
Viva o Brasil!
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