João Carlos Martins emociona público

de 3 mil pessoas em encontro de estudantes

Por Clarice Gulyas



O maestro João Carlos Martins emocionou cerca de 3 mil jovens durante encontro de estudantes do Centro Educacional Leonardo da Vinci, realizado no último sábado (6), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O pianista compartilhou com crianças e adolescentes a trajetória de vida que o consagrou como símbolo de superação. O evento fez parte das comemorações dos 42 anos da escola. A programação contou ainda com palestras motivacionais e apresentações culturais como a participação do coach Homero Reis, do grupo perfomático Laugi e da banda cover dos Beatles All You Need Is Love.

Aos 71 anos de idade e 110 concertos realizados só este ano no Brasil e no exterior, João Carlos Martins subiu ao palco para dizer aos jovens que o sonho não tem prazo de validade. E que a persistência é capaz de mudar o futuro. “A minha mensagem para vocês é que a pessoa nunca pode desistir. Quando a gente nasce, é como ser uma flecha: cada um tem o seu destino, o seu caminho e que cada um tem que cumprir sua missão”, diz.

Com o movimento de apenas três dedos das duas mãos, Martins arrancou aplausos e lágrimas ao interpretar o compositor alemão Bach para o público. O maestro foi um dos maiores intérpretes de Bach no mundo. Crianças de todas as idades se aglomeraram em frente ao palco comovidas com o talento e a simpatia do maestro. A aluna do 7º ano do Ensino Fundamental, Milena Monte, 12 anos, conseguiu um autógrafo de João Carlos. “Achei muito interessante a história dele e como toca o piano. Foi emocionante ver como ele superou a perda dos movimentos das mãos”, elogia.

Fã do maestro, Mariela Monte, mãe de Milena, conta que o momento foi de renovação espiritual. “Eu já gostava do João Carlos porque temos CDs dele em casa. Achei a palestra muito emocionante e o evento foi além das minhas expectativas. E me mostrou que quando você quer, você consegue”, avalia.

Ao final da apresentação de Martins, cantores profissionais e amadores do grupo perfomático Laugi homenagearam de forma irreverente o maestro com a canção Beatriz, de Chico Buarque e Edu Lobo. Em resposta, João Carlos Martins, de forma inusitada, regeu o grupo por alguns instantes. “Ser regido pelo maestro Martins, alguém que é exemplo como pessoa e referência mundial como músico, é com certeza uma honra e oportunidade única para nós. Naquele momento nos sentimos mais inspirados ainda a viver de música”, diz Cinthya Baccile, integrante do Laugi.

Com um diálogo descontraído, o coach Homero Reis também conquistou a atenção dos jovens na palestra “Feitos para vencer”, que abordou como os estudantes podem superar os limites nos estudos com a conciliação adequada de responsabilidade e lazer. “O desafio de ser vencedor é ser alguém que tenha prazer no simples fato de estar vivo”, disse.

Para Lucas Silva, 13 anos, a partir de agora as escolhas do futuro terão maior atenção. O estudante do 8º ano do Ensino Fundamental pretende passar menos horas na frente do computador e se dedicar mais aos estudos. “Eu gosto muito desse tipo de palestra e me fez pensar em algumas coisas como não ficar muito tempo nas redes sociais e fazer inglês”, diz.

A aluna do 8º ano do Ensino Médio, Júlia Franco, 13 anos, participou da primeira edição do encontro, em 2009. De acordo com ela, o evento realizado esse ano superou as expectativas. “Esse foi muito melhor e bem mais organizado. Achei as palestras bem legais e interessantes e que tiveram a ver com a gente. Agora a gente vai pensar mais no tempo gastamos na vida brigando por besteira e como agir com as pessoas ao nosso redor”, diz.

O evento foi encerrado com a apresentação da banda cover dos Beatles All You Need Is Love, que interpretou diversas músicas do quarteto inglês com direito a figurino especial e diálogos no idioma do grupo, que proporcionou ao público a sensação de viver os anos 60.

“Achei o encontro excelente. É uma ótima opção de troca de experiências. Quero parabenizar o colégio por essa iniciativa e espero que promovam outros eventos como este”, elogiou Nelson Lopes Sousa, pai de Matheus Henrique, aluno do 6º ano do Ensino Fundamental.

O diretor do Centro Educacional Leonardo da Vinci, Jorge Manzur, comemora o sucesso da segunda edição do encontro. E diz que a finalidade do evento foi atingida de acordo com os princípios e propostas pedagógicas da escola. “Acho que a escola não pode só ser conteúdo e esses eventos culturais ajudam na formação dos alunos como cidadãos com valores humanos e histórias de solidariedade e superação”, avalia.


A arte de se reinventar

Por Clarice Gulyas

Superação. Essa é a lição que o maestro João Carlos Martins passa em cada som dedilhado no piano. A trajetória de um dos maiores pianistas do país se tornou exemplo internacional e encanta crianças e adolescentes em Brasília. Palestrante em encontro para jovens do Centro Educacional Leonardo da Vinci, que será realizado neste sábado (6), o maestro espera mostrar aos estudantes que a música é capaz de aproximar as pessoas e transformar atitudes.



O estudante Alexandre de Oliveira, 17 anos, segue o exemplo de superação e se apega a cultura para enfrentar os obstáculos como portador de deficiência auditiva. Assim como o maestro, não faltam sonhos e criatividade para seguir adiante. Formado em inglês, o aluno do 2º ano do Ensino Médio gosta de passar o tempo estudando a cultura e o idioma russo e praticando sua maior paixão: o piano. “Eu não estou nem aí se sou surdo, eu gosto do que é diferente. A surdez não é problema nenhum. O problema é o preconceito da sociedade”, diz.



Ex-praticante de judô, Alexandre também frequenta aulas de natação e vai iniciar um curso de francês. Mas o que ele realmente quer é estudar engenharia na Rússia, por acreditar que lá existem os maiores profissionais da área. Alexandre também relembra filósofos e cientistas históricos que foram exemplo nos estudos e na vida pessoal, influenciando e incentivando toda uma geração. Dentre eles, Alexandre destaca Albert Einstein, Leonardo da Vinci e o químico russo Dimitri Mendeleev. “Também gosto do Napoleão porque passou de pobre para imperador”, diz.



Para a mãe, Alessandra de Oliveira, a facilidade de adaptação e o constante interesse de Alexandre pelo conhecimento são motivo de orgulho para toda a família. Mas assim como o ídolo Leonardo da Vinci, que se constrangia por desenhar com a mão esquerda, Alexandre passou por problemas de comportamento e de agressividade na infância por não aceitar a limitação física. Na pré-adolescência, teve dificuldades em aceitar a rotina de frequentar especialistas como fonoaudiólogo para melhorar a fala e se adaptar aos sons ambientes, intensificados com o uso de aparelho auditivo.

“Esse avanço dele foi um trabalho conjunto da família e da equipe de profissionais, entre eles médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, os profissionais de equoterapia. Quando pequeno ele demorou a andar e também não conseguia andar de bicicleta por lhe faltar equilíbrio, provavelmente, por causa da surdez. O resultado que o Alexandre apresenta agora não é o definitivo, mas o será quando ele estiver formado na faculdade e empregado”, diz.



Para o maestro João Carlos Martins, que por duas vezes teve de abandonar a carreira de pianista quando perdeu os movimentos das mãos, a música não só o ajudou a superar limites como também fez com que “os caminhos para o abismo se tornassem uma plataforma para o futuro”. “A frustração é tão grande que você tenta deletar a música da sua vida, mas eu não consegui porque ela faz parte do meu ser. Eu sempre fui um leão no palco e continuo sendo na regência”, conta.



Aos 71 anos e com um repertório de 110 concertos realizados no Brasil e no exterior só este ano, João Carlos Martins afirma que a música é capaz de aproximar as pessoas e ajudar a superar desafios. “Hoje em dia nos países asiáticos a música já ultrapassa até o esporte para a inclusão social. No esporte existe a palavra disputa e na música existe a palavra amor”, diz.



A diretora pedagógica Solange Foizer avalia que a escola tem o papel fundamental de estimular o aluno com um acompanhamento individualizado para fortalecer a autoestima no sentido de perceber os pontos fortes e os aspectos a serem alavancados. Atitudes básicas de relacionamento como dar bom dia e a participação em atividades culturais contribuem para que o aluno seja respeitado e motivado a se destacar cada vez mais.



“Quando percebemos a baixa autoestima, procuramos conversar. Temos dinâmicas e jogos cooperativos que ajudam no trabalho individual e faz a diferença para eles se desenvolverem porque somos indivíduos e não coletivos. Essas atividades geram harmonia, respeito, empatia, solidariedade e o carinho pelo o outro”, diz.
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