ARTIGO – A FALTA DE MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA

Por: Artur Bueno de Camargo
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), e vice-presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo
Estamos vivendo um momento em que há uma forte e considerável oferta de emprego no mercado brasileiro, quer seja no setor industrial, quer seja no setor comercial e, ainda, no de prestação de serviços. Temos percebido que quanto maior é a oferta de emprego, maior também é a preocupação de boa parte dos empresários, pois eles alegam que não conseguem mão de obra especializada para ocupar as vagas de trabalho que estão disponíveis.

Façamos então, juntos, uma análise desta questão. Em primeiro lugar, precisamos definir de quem é o dever de proporcionar condições para que o trabalhador possa se especializar. E vamos partir do princípio de que a formação de mão de obra, para atender às demandas do mercado, interessa a toda à sociedade: É certeza de que a formação de mão de obra, inclusive com especialização, interessa ao Governo, porque contribui com o desenvolvimento do país. Interessa, ainda, ao movimento sindical, porque fortalece o poder de barganha nas negociações coletivas de trabalho. Aos trabalhadores, porque eles terão melhores salários e condições de trabalho, e interessa às empresas, porque terão mão de obra mais bem qualificada, que as farão atingir mais produtividade e qualidade para que seus produtos possam competir no mercado globalizado, resultando, assim, em maior lucro. 
Obviamente, podemos observar que as empresas são as maiores interessadas e, em razão disso, fazem as contribuições patronais chamadas de 5 (cinco) S (esses), principalmente para manutenção do SESI, SENAI e SENAC, pois são entidades que mantêm cursos de formação e especialização em várias áreas do conhecimento. Entretanto, uma atitude de várias empresas, que nós representantes de trabalhadores não conseguimos entender, é que muitas vezes, embora os empresários reclamem da falta de mão de obra especializada no mercado para atender a sua demanda, quando menos se espera, a empresa demite vários empregados, terceirizando os setores que são permitidos, e às vezes, até os que não são permitidos por lei, colocando uma mão de obra mais barata, com certeza, menos qualificada, visando apenas à redução de custo num curto prazo, tornando ainda mais precárias as condições de trabalho.
Ainda bem que grande parte das empresas percebeu que, num longo prazo, a terceirização não é viável, porque faz cair a qualidade do produto e sua competitividade fica prejudicada, então, acabaram por abandonar, ou reduzir a terceirização. Isto não se deu na construção civil, pois além da terceirização que ainda é muito forte, existe a quarteirização.
Neste final de ano, principalmente no setor do comércio, tem havido reclamação generalizada em razão da falta de mão de obra especializada para atuar no chamado “trabalho temporário”. Senhores empresários, com todo respeito, usaremos de muita franqueza: cobrem de suas organizações patronais maior empenho na profissionalização dos trabalhadores, mas façam também a sua parte! Valorizem o trabalhador, proporcionando salários dignos, boas condições de trabalho, participação nos lucros e nos resultados e condições para que os trabalhadores possam vir a estudar, ter uma profissionalização e se atualizar.
Uma iniciativa que as empresas poderiam ter, e com certeza contribuiria para a profissionalização e atualização dos trabalhadores, seria solicitarem para que a CNI (Confederação Nacional da Indústria) pare de fazer lobby no Congresso Nacional para impedir a votação da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Aliás, a implantação das 40 horas semanais seria o mínimo de contrapartida que as empresas poderiam dar à sociedade. Afinal, a sociedade tem contribuído, e muito, por meio de verbas do BNDES, a juros baixíssimos, para as empresas, o que não é admitido ao trabalhador, que conta tão somente com seu salário!

Com certeza, especialmente para os empresários do comércio que continuarem insistindo em pagar APENAS UM SALÁRIO MÍNIMO para o trabalhador cumprir UMA JORNADA, DE NO MÍNIMO, 7 (SETE) HORAS E 20 (VINTE) MINUTOS, EM PÉ –, o que além de ilegal é desumano, não vão encontrar nenhuma mão de obra, muito menos especializada!

Caro leitor, cabe a nós fazermos a nossa parte, prestigiando os empregadores que dão as melhores condições de trabalho e de salários, para seus trabalhadores. Quando a sociedade se organiza, em apoio daqueles que merecem respeito, pela forma digna como atuam, os resultados são ótimos para todos, inclusive para os próprios empresários. É apenas uma questão de lógica! Aproveitamos para desejar a todos um 2013 de realizações e de paz!
Foto: trabalhadores da Alimentação fizeram manifestação na CNI em 2011 contra más condições de trabalho e baixos salários
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